segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Dupla embreagem - velocidade e desempenho


Esboço da caixa de câmbio de dupla embreagem da Kégresse para a Citroën
A necessidade de se desenvolver sistemas de transmissão em veículos que pudessem desacoplar o eixo que transmite o movimento do motor para as rodas, com a finalidade de aproveitar melhor a relação entre a velocidade de rotação do motor e a velocidade de rodagem para o aumento da velocidade, faz com que entendamos melhor o funcionamento e a necessidade da embreagem.


Hoje, existem tipos de transmissão que utilizam embreagens de diferentes formas. Basicamente são dois os tipos de câmbio de transmissão: o câmbio manual, que consiste em um pedal da embreagem e a alavanca de câmbio; e o câmbio com transmissão automática, que consiste em embreagens, um conversor de torque e conjuntos de engrenagens planetárias. Este tipo de transmissão se divide também em um sistema intermediário, denominado de semi-automático ou manual automatizado. É aí que se desenvolveu o câmbio com dupla embreagem. Há controvérsias quanto ao primeiro carro visto com o câmbio de dupla embreagem, sendo mencionados: uma Ferrari 640 pilotada por Nigel Mansell no GP do Brasil de 1989, um Porsche também nos anos 1980, em carros de pista como o 956 e 962, e também pela Audi, no Quattro S1 de rali que demorou 20 anos para aparecer nas ruas.
                                              Representação de um sistema de embreagem manual


Basicamente o sistema de dupla embreagem é constituído por dois discos de embreagem. Um deles aciona todas as marchas pares e a marcha ré, enquanto outro disco menor aciona as ímpares. Assim você tem sempre todas as engrenagens de marcha prontas para ser usadas. Apenas o disco se desloca, deixando sempre a marcha seguinte pré-acionada, explica Nivaldo Mattos, gerente de serviços da Mercedes-Benz do Brasil. Um módulo de controle ligado ao módulo central do veículo gerencia tudo, levando em consideração parâmetros como se o carro está numa curva, numa reta ou desaceleração, variáveis que indicam ao módulo qual é a marcha mais adequada para a situação. Quando você seleciona a primeira marcha, a outra meia-transmissão já deixa pré-selecionada a marcha seguinte, nesse caso a segunda. Na hora de trocar a marcha efetivamente, a embreagem par entra em ação para trocar as meias-transmissões. A embreagem ímpar é desacoplada ao mesmo tempo em que a embreagem par é acoplada e coloca a segunda marcha (que estava pré-selecionada) em ação. Enquanto isso, a meia-transmissão ímpar já pré-seleciona a terceira marcha. Na hora de subir de marcha novamente, a embreagem par desacopla do volante e pré-seleciona a quarta marcha, ao mesmo tempo em que a embreagem ímpar volta a acoplar ao volante para colocar a terceira marcha em ação, e assim por diante.
            Além da aplicação da dupla embreagem em carros de corrida e esportivos, ela tem sido aplicada e desenvolvida em caminhões de carga. A Volvo anunciou há pouco tempo que desenvolveu o primeiro câmbio de embreagem dupla para caminhões. Com capacidade de tracionamento contínuo, o caminhão consegue reduzir ou subir marchas com carga total e em subidas gastando menos combustível e com velocidade mais constante e, consequentemente, maior.
Em relação ao câmbio de dupla embreagem, a maior diferença é em relação ao seu modo de funcionamento: seca (dry) ou úmida (wet). As embreagens úmidas trabalham banhadas em óleo, e são usadas para aplicações de alto torque, onde trabalham com mais energia e calor mais intenso e o óleo ajuda a arrefecer o câmbio. Contudo, esse tipo de transmissão tem maior perda mecânica, pois o óleo precisa ser bombeado através da caixa para arrefecer as embreagens. As embreagens secas, por sua vez, são mais eficientes devido ao volume reduzido de óleo bombeado através do sistema. Isso porque esse tipo de embreagem é projetado para trabalhar com números de torque mais baixos. A transmissão DSG da Volkswagen, por exemplo, usa embreagem seca para motores com até 250 Nm (25,5 mkgf), enquanto a Ford adota embreagem seca em seu PowerShift para aplicações de até 280 Nm de torque (28,5 mkgf).
           O homem que inventou a caixa de câmbio de dupla embreagem foi um pioneiro em engenharia automobilística, Adolphe Kégresse, mais conhecido por desenvolver o meia-lagarta, um tipo de veículo equipado com esteiras de borracha sem fim, o que o permite transitar fora da estrada em vários tipos de terrenos. Em 1939, Kégresse concebeu a idéia de uma caixa de câmbio de embreagem dupla, que ele esperava usar no legendário Citroën "Traction". Infelizmente, circunstâncias de negócios adversas impediram seu desenvolvimento posterior. As principais vantagens do câmbio com dupla embreagem se encontram no tamanho e facilidade, apesar da complexidade as caixas são menores e menos difíceis para eventuais consertos em relação ao câmbio automático; no consumo, os carros com transmissão de dupla embreagem podem chegar a 10% de economia em relação ao câmbio automático; e na suavidade de rapidez, uma vez que o de dupla embreagem elimina os trancos e é mais ágil nas trocas de marchas.